Fiquei alguns anos sem pintar…
E em 2010, quando estava decidido a reabrir o atelier e retomar minha carreira artística, estabeleci metas, propus desafios* e incorporei aspectos sócio-ambientais às obras de arte e processo de produção.
O primeiro passo foi pesquisar quais materiais tinham um processo produtivo que agredisse menos o meio-ambiente, gerasse menos resíduos e, ao mesmo tempo, fosse menos tóxico para os artistas – é muito poético mas sobretudo trágico saber que o pintor Cândido Portinari morreu aos 58 anos intoxicado pelo chumbo de suas tintas.
Para minhas surpresa, a tinta que mais correspondeu aos requisitos foi a tinta acrílica – que já era uma das minhas mídias favoritas por sua praticidade e versatilidade, além do investimento constante de grandes marcas em inovação e desenvolvimento de produtos com novos pigmentos, cores, acabamentos e mediums que a tornam a cada dia mais completa. Isso somado ao menor consumo de água para lavar pincéis e materiais, e principalmente suas características técnicas de durabilidade e resistência insuperáveis.
Nesse ranking, a tradicional tinta a óleo ficou muito abaixo, principalmente pelos solventes (em sua maioria tóxicos), mesmo sendo feitos a partir de materiais naturais. Desse dia em diante adotei a tinta acrílica em praticamente todas minhas obras.
Outro ponto pesquisado foram os suportes (tela, papel etc.), com resultados sem muitas surpresas. Nesse quesito, em algumas ocasiões adotei alguns chassis antigos e esticar telas usando tecidos sem tratamento químico, reduzindo a geração de resíduos sólidos.
Além da pesquisa de materiais, passei a criar obras com temática relacionada ao meio-ambiente enquanto ainda desenvolvia a identidade característica da fase Natureza Fantástica.
O foco desse trabalho foi registrar principalmente desastres ecológicos, especialmente pela ação do homem, que ocorreram em um curto período recente – e que são cada vez mais frequentes – para que não fossem esquecidos na manhã do dia seguinte. Como deslizamentos de terra no sul do Brasil, temporais isolando cidades no Rio de Janeiro, terremoto no Haiti, erupções na Europa, diversas florestas afetadas pela seca, enchente e poluição, entre outros.
Com essa produção, fui convidado para participar de um evento especializado em arte ambiental, social e política no estado de Nova York chamado Buffalo Infringement Festival, em 2011.
Pelo lado social, ingressei como colaborador em projetos que pesquisam como a arte pode ajudar no desenvolvimento cognitivo e melhorar a cura de doenças. Tinha acabado de ser plantada a semente do programa Arte na Escola e da doação de obras para serem leiloadas com renda revertida para instituições beneficentes.
A participação em projetos, seleção de materiais e aspectos técnicos se tornaram parte do meu corpo de trabalho e ainda são adotados. E continuarão assim até que eu descubra novos meios e materiais que melhorem ainda mais essa pegada ambiental.
Porém o tempo me mostrou novos artistas explorando assuntos sócio-ambientais em documentários e obras muito mais profundas do que eu teria capacidade para fazer. Ao menos por enquanto, deixei os tema ambiental para esses especialistas e reduzi essa produção e foquei nos trabalhos que vieram na sequência.
* Saiba mais sobre as metas e desafios no texto de apresentação da fase Natureza Fantástica.